domingo, 20 de julho de 2008

Tabacaria


Sou um otimista. Gosto de ver o lado bom das coisas, fatos e pessoas. Acredito que tudo tem um propósito, até mesmo as coisas ruins que acontecem conosco. Contraditoriamente, penso ser esse um de meus grandes defeitos. Fernando Pessoa, um de meus poetas prediletos, disse certa vez em um de seus célebres poemas:

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

Como bom otimista, não vejo nessas palavras nada de niilista, muito antes pelo contrario (como sempre diz o querido Pe. Marco Túlio), penso que esses versos são a mais simplória tradução do que significa ser humano.
Reconhecer-se ‘nada’ é aceitar que diante de tudo, não somos muito, somos pó de estrelas. Do pó viemos e para ele retornaremos. Nossa existência é insignificante. Quando eu morrer, o sol continuará seu curso de nascente à poente, a terra ao redor dele, os pássaros continuarão a cantar, os carros a andar, as pessoas a viver. Nada irá mudar. Talvez ninguém se lembre de mim daqui a dez anos. Talvez apenas meia dúzia de pessoas se lembre de quem eu fui ou das coisas que fiz. E é aí que vem a parte boa da história: fora isso, “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Pensando assim, sonhando com tudo que poderei realizar, principalmente sabendo e querendo não ser nada, volto-me para o outro. Deixo de ser nada para mim e passo a ser tudo na vida de outra pessoa, daquela meia dúzia que poderá lembrar-se de mim anos depois de minha partida. Isso é ser humano. Ser falível e mortal, mas capaz de realizar feitos e obras incríveis. Capaz de salvar vidas numa proporção muito maior do que apenas gerá-las. Muitas vezes, gestos aparentemente simples como um sorriso podem mudar o dia de uma pessoa. Talvez alguém se lembre de mim por eu tê-lo escutado e não pelas coisas que eu tenha dito. Não sei ao certo os motivos que farão de mim algo importante na vida do outro. Tenho a certeza de que eu não sou nada, nunca serei nada, não devo e nem posso querer ser nada, mas que tenho sonhos e que quero muito realizá-los. Quem sabe assim, daqui a dez ou vinte anos, alguém possa se lembrar de mim e dizer: ele pode não ter sido nada para os outros, mas significou muito pra mim. Terá valido a pena.

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