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Acompanhei atento todas as notícias sobre o desaparecimento do Airbus A330 da Air France. Confesso que, esperançosamente, esperei que fosse noticiado o encontro de sobreviventes. Como cristão e também ser humano, tenho esperança até hoje. É como se de repente aquela música tenebrosa do plantão da Rede Globo tocasse e algum repórter anunciasse que, milagrosamente, foram encontrados sobreviventes desse terrível acidente aéreo.
Eu não conhecia sequer um dos passageiros, mas é muito triste saber que mais de duzentas vidas foram ceifadas de uma forma trágica. Penso na dor dos familiares, dos amigos e colegas de trabalho, penso nos que ficaram ao mesmo tempo que rezo para os que foram.
Nunca fui fã de aviões. Como é que alguém pode se sentir seguro dentro de um tubo de alumínio com mais de duzentas toneladas de peso, sustentados apenas pelas leis da física. Quem disser que não tem medo está mentindo. Bem lá no fundo, todos têm medo, nem que seja um pouquinho.
Voar, apesar de tudo, continua sendo a forma mais segura de se viajar. Não existe um meio de transporte mais seguro, visto que as rodovias têm se tornado verdadeiros campos de batalha, onde motoristas imprudentes, revestidos por suas lustrosas armaduras de aço sobre rodas, têm provocado inúmeros acidentes todos os dias, muitos deles fatais.
Fato é que, carros colidem todos os dias, deixou de ser novidade. Tal banalização nos faz dar menos importância para as estatísticas e nos dá uma falsa sensação de segurança. Mas talvez o grande problema com o avião seja que no carro, por mais feio que seja o acidente, sempre há uma enorme chance de alguém que ali estivesse, sobreviver, mas quando o assunto é a queda de um avião, é quase certa a totalidade das vitimas fatais.
O número de mortes também impressiona. Quando um veículo se acidenta, o número de vitimas geralmente é pequeno, quatro, cinco talvez mais se for um ônibus, mas quando falamos de um avião, o número alcança fácil os três dígitos.
Seja como for, devemos procurar viver cada dia como se o ultimo fosse, devemos aproveitar as coisas simples, que geralmente são pequenas, mas que fazem toda a diferença. Devemos entregar nossas vidas nas mãos de Deus e continuar, embora seja difícil, é assim que devemos proceder sempre, afinal, a vida continua.
Absalão era um homem que só se podia conceituar como justo. Particularmente era um apaixonado pela organização de forças de combate e no uso de armas avançadas, tais como lanças de grande alcance, setas orientadas e a última novidade bélica - o lançador de pedras! Era um verdadeiro líder.
Um dia, andava Absalão pela ravina, quando de repente - PUFF - uma nuvem de fumaça apareceu, acompanhada de uma voz tonitruante:
- ABSALÃO!
Absalão prostrou-se. Só podia ser o Criador! Em Pessoa!
ABSALÃO - tornou a voz - "NÃO ESTOU CONTENTE COM OS HOMENS. ESTÃO POLITIZADOS. GUERREIAM ENTRE SI E SÓ DEFENDEM OS INTERESSES PRÓPRIOS. O TRINÔMIO ADÃO-EVA-COBRA DEU NISTO... FAREI CHOVER DURANTE 40 DIAS E 40 NOITES, ATÉ COBRIR A TERRA DE ÁGUA, O QUE SERÁ CONHECIDO COMO 'O DILÚVIO'. QUERO QUE NASÇA UMA NOVA HUMANIDADE, DE HOMENS INTELIGENTES, PRÁTICOS E OBJETIVOS. VAI E CONSTRÓI UM BARCO PARA TI E PARA A TUA FAMÍLIA E LEVA PARA DENTRO DESTE UM CASAL DE CADA SER VIVO. TERÁS CENTO E VINTE DIAS PARA ESTE EMPREENDIMENTO. O MEU CONTATO CONTIGO É O ARCANJO GABRIEL."
PUFF!... e a nuvem desapareceu.
Absalão levantou-se lívido. O Criador o elegera gerador da nova Humanidade!
Todas as suas idéias seriam programadas para o futuro! Mas, Absalão não conhecia nada de barcos nem de navegação! Quatro meses... era muito pouco tempo! Era preciso resolver um problema técnico, construir um barco enorme - que objetivo!
Absalão rebuscou a memória. Conhecia um engenheiro naval chamado Noé.
Noé poderia construir-lhe o barco. Absalão seria o coordenador do empreendimento e Noé seria o elemento técnico. Se depressa o pensou, mais depressa o fez. E foi falar com Noé.
- Meu caro - dizia Absalão - quero encomendar-lhe um barco... e dos grandes!
- Sim, senhor, mas de que tipo, para que tipo de carga e que tipo de navegação?...
- Sim, sim, Noé, isto são só detalhes. É um barco para grande carga e águas pesadas. Quero fazer uma longa viagem com a família e levarei tudo.
- Está bem, senhor. Temos aqui mesmo, nesta floresta, madeira de boa densidade, em quantidade suficiente. Acho que consigo arranjar dez bons carpinteiros e dez bons lenhadores e assim conseguirei construir o barco.
Mais tarde, Absalão chamou Roboão.
- Roboão, como você já deve saber, vamos construir um grande barco...
- Sim, chefe, já ouvi dizer qualquer coisa.
- O que você acha...
- Deixe comigo, chefe. No recrutamento da última batalha pagamos oito dinheiros a valentes combatentes e estes são apenas carpinteiros. Temos cinco recrutadores e dez examinadores, para a fase de seleção!
- E quanto ganharão?
- O salário desta equipe varia entre oito e dez dinheiros, por serem especialistas. Chefe, há um pequeno problema. Não quero responsabilidades com o numerário e não sou bom
- Bem lembrado, Roboão, mas não conheço nenhum e deve ser um homem de confiança!
- Bem, chefe, podemos fazer uma seleção entre candidatos. Vou já tratar disso.
O empreendimento crescia de vento
- Senhor Presidente - falou timidamente a graciosa recepcionista - está aqui o Engenheiro Noé com alguns desenhos e...
- Minha filha, já lhe disse para não me interromper. Diga ao Engenheiro Noé que passe por aqui depois do almoço.
- Pois é, amigo Jacó, preciso cercar-me de gente de confiança para o sucesso do meu empreendimento.
- Certo, chefe! Sabe que pode confiar
- Justo, Jacó. Encomende as prateleiras na carpintaria da povoação e fale com o Roboão para o recrutamento de pessoal necessário.
Neste momento entrou Cloé, a secretária do Presidente. Jacó afastou-se discretamente.
- Senhor Presidente, o Engenheiro Noé telefonou novamente. Parece aflito para a aprovação de alguns desenhos.
- Ora, este Noé! Sempre querendo me confundir com minúcias sobre densidade de madeiras e outras bobagens. Ele sabe que sozinho não posso me responsabilizar pela aprovação desses desenhos. Diga-lhe que nomearei um Grupo de Trabalho do Barco, o GT-BAR, para me dar o parecer. O rapaz é bom em projetos, mas não entende nada de custos ou de administração!
Passaram-se quinze dias e o organograma proposto já estava na mesa do Presidente. Uma Diretoria das Coisas (DC), uma dos Investimentos (DI) e uma do Barco (DB).
A Diretoria do Barco já tinha montado um laboratório especializado para a medida de densidade de madeira e análise de fungos e caruncho.
A Administração, em apenas quinze dias, já tinha elaborado as provas de seleção para arquivistas de desenho naval, para a seleção do pessoal de recrutamento e seleção de pessoal de apoio etc.
Naquela noite, Absalão estava cansado, mas não pôde esquivar-se de receber Noé na sua residência.
- Senhor Presidente, desculpe-me ter vindo interromper o seu descanso, mas o projeto já está pronto e as pessoas do GT-BAR ainda não foram nomeadas. O material já está especificado, porém o laboratório ainda não emitiu o laudo de aprovação da madeira e não consegui os carpinteiros para o corte... Se o senhor pudesse autorizar-me a trazer os carpinteiros conhecidos da povoação...
- Não se preocupe, Noé. Falarei amanhã com a Diretoria do Barco e apressarei a contratação do pessoal. Noé, apesar de ser o Presidente, não posso mudar as normas da organização, autorizando diretamente os seus carpinteiros. Não se preocupe que o empreendimento está nas mãos de profissionais - os melhores! Boa noite, Noé...
Noé afastou-se sem entender muito bem. Tinha sido convidado para construir um barco. Agora está às voltas com normas, instruções, exames de seleção etc...
Vigésimo quinto dia - manhã linda. Cloé anuncia a chegada de Roboão.
- Entre, meu velho, sente-se. Aceita um leite de cabra?
- Sim, chefe, obrigado. Por falar nisso, mandei distribuir leite de cabra de manhã e de tarde, para todos. Mas, para isso, foi necessário adquirir duzentas cabras, alugar um pasto e contratar cinco pastores.
- Você é um bicho na administração de pessoal, Roboão! Merece uma promoção. Afinal, já temos quinhentas pessoas no efetivo e todas passaram por você.
- Roboão, não quero incomodá-lo e nem por sombra desfazer o belíssimo trabalho da sua equipe, mas Noé disse-me que ainda não foram contratados os carpinteiros para o corte...
- Ora, chefe, Noé é um sonhador. Só pensa nos seus desenhos. Já lhe expliquei a complexidade da contratação. Por exemplo, já aumentamos a oferta para seis dinheiros, mas todos os carpinteiros foram reprovados no primeiro psicotécnico. Se não passam neste exame, imagine nos outros!
- Realmente, você tem razão, Roboão. Noé desconhece o que é uma boa organização. Oriente as coisas como achar melhor. Se o contratei é porque tenho total confiança no seu trabalho...
Quadragésimo dia - finalmente a primeira reunião de Direção. Era o momento solene das grandes decisões de cúpula do empreendimento. O Presidente, satisfeito, relatava que o empreendimento era o orgulho da povoação. Havia muito trabalho e emprego para todos.
O Diretor do Barco ponderou que faltava papel para o desenho e que a eficiência dos carpinteiros era baixa. Noé tentava suprir a falta desenhando em folhas de bananeira e cortando as árvores à noite, após o expediente. Quando o Diretor do Barco propôs aumentar o salário de Noé para quinze dinheiros o Diretor das Coisas explodiu, seguido de perto pelo Diretor dos Investimentos.
- Estes técnicos não funcionam e ainda querem aumento! Sr. Presidente, sou de opinião que devemos aumentar a equipe de recrutamento e apertar as provas de seleção.
- Perdão - retrucou o Diretor do Barco - Acontece que não temos o apoio necessário. O senhor está desviando recursos para a área de operação do barco, recrutando timoneiros, veleiros etc.
- Mas é lógico - interveio o Presidente - temos que agir com antecedência no treinamento.
Octagésimo dia - Absalão passeava na ravina. Estava orgulhoso. Era Presidente de um empreendimento que já contava com mil e duzentas pessoas. As preocupações de Noé eram infundadas. Não passava de um tecnocrata pessimista. Felizmente já havia o Diretor do Barco para despachar com Noé - menos um aborrecimento. Subitamente - PUFF - uma nuvem de fumaça!
- O Arcanjo Gabriel! - exclamou Absalão, prostrando-se.
"ABSALÃO! PÕE GENTE DE MAIS PESO NO TOPO, CASO CONTRÁRIO O EMPREENDIMENTO AFUNDARÁ!"
PUFF!
Absalão correu à cabana de Noé.
- Noé, Noé, ponha um convés no alto do mastro. Vou colocar as pessoas mais pesadas em cima!
- Mas, Presidente, isso é impossível!... O convés é sempre em baixo e o mastro aponta para cima. Se aumentarmos a massa do topo, o barco vai emborcar!
- Não discuta comigo, Noé. O Arcanjo mandou colocar homens pesados no topo e é isso que vou fazer... e cumpra as minhas ordens!
Noé não retrucou. O Presidente estava nervoso. Noé correu à Secretaria Geral, mas lá encontrou o Comandante de Operações do barco, que já o esperava há duas horas.
- Noé - disse o Comandante - o seu projeto não anda! Vou treinar os meus homens sem barco? Vou pedir a aprovação do Presidente para adquirir um simulador, caso contrário não me responsabilizo.
Noé balançou a cabeça e retirou-se. Realmente o que ele conseguira? Uma meia dúzia de desenhos em folha de bananeira. Isto em oitenta dias. Estava acabrunhado e sentia-se um incompetente. Mas o que estaria errado?
O Presidente entrou furioso desabafando com Cloé.
- Veja só! Faltam apenas quarenta dias e a Divisão de Importação diz que há crise de transporte e a madeira só chegará no prazo médio de dez dias! Quero uma reunião de emergência com os diretores. Vou despedir o carpinteiro e contratar outro. Se não fosse o Roboão com a equipe de recrutamento, não sei o que seria...
- Mas, Presidente - perguntou Cloé - faltam quarenta dias para quê?
- Para o dilúvio, minha filha, para o dilúvio! Envie o seguinte fax:
De: Absalão
Para: O Senhor
Solicito prorrogação prazo restante 40 dias. Dificuldades intransponíveis. Crise internacional de madeira. Prostrações. Absalão
O ruído monótono do fax deixava Absalão ansioso, mas a resposta veio finalmente:
De: Senhor
Para: Absalão
CONCEDIDO PRAZO MAIS CINCO DIAS IMPRORROGÁVEIS, ELEVAÇÃO DAS ÁGUAS EM ANDAMENTO.
Absalão desesperou-se e partiu para a reunião. Cloé, pelo telefone interno, espalhou a história do dilúvio.
Octagésimo segundo dia.
- Cloé, ligue para Roboão.
- Roboão? Aqui é o Presidente. Já recrutou os carpinteiros?
- Infelizmente não passam nos testes, meu chefe. Até já afrouxamos as provas, mas o exame de reconhecimento de tipos genéticos de caruncho reprova todos!
- Presidente - interrompeu Cloé - é urgente: há dois pastores na ante-sala e dizem que há crise de leite nas cabras e não vai haver distribuição aos funcionários durante uma semana - o suprimento não providenciou erva durante a seca do pasto... Qual é a sua decisão?
Centésimo dia.
- Sr. Presidente - disse o Diretor dos Investimentos - dentro de uma semana vencem os nossos empréstimos internacionais, com as povoações vizinhas, e o caixa não é suficiente. O nosso empreendimento economicamente vai muito bem, mas financeiramente... estamos
- Sr. Presidente - tentou timidamente o Diretor do Barco - acho que o Diretor dos Investimentos tem razão, mas não prometemos ao CRIADOR que o barco estaria pronto em breve?
- Mas... sem material!
- Como posso fabricar madeira? - gritou o Diretor das Coisas - o seu laboratório não acha a madeira local apropriada e há crise de transporte! Os carpinteiros são incompetentes... e esse tal Noé! Que fez ele até agora? E ganha dez dinheiros...
- Senhores! - falou gravemente o Presidente. Todos o olharam esperançosos. - A situação do empreendimento é razoável, mas temos que tomar uma atitude mais séria quanto ao projeto do barco...
- Presidente, não quero interromper, mas nos nossos arquivos não constam os exames de admissão de Noé e nem sabemos se ele é engenheiro naval!...
- Sim, a culpa é minha - falou o Presidente - mas quando convidei Noé ainda não existiam as normas do empreendimento. Sou, portanto, obrigado a despedi-lo. Queira providenciar através do Roboão.
Noé ficou realmente furioso com a notificação. Estava disposto a sair daquela terra e o caminho mais fácil era pelo rio. Partiu para a floresta e reuniu a família.
- Vamos cortar estas árvores, mesmo com bicho, construir um barco e sair daqui!
- Mas, Noé, não somos carpinteiros, nem sabemos fazer barcos...
- Não importa. Eu ensino vocês a cortar a madeira e já tenho os desenhos. Faremos um pixurum e construiremos um barco para tentar uma vida melhor longe daqui! Levaremos uns animais a bordo para comer na viagem. Só falta meter mãos à obra!
A madeira começou a ser cortada. As partes mais bichadas eram descartadas. Em poucos dias o casco do barco já tomava forma.
Centésimo vigésimo quinto dia - O Presidente acordou preocupado. A madeira tinha chegado, mas só havia três carpinteiros no setor de carpintaria. A sua charrete seguiu o caminho mais rápido para o escritório, para evitar o mau tempo. Nuvens pesadas cobriam os céus. Absalão dirigiu-se diretamente ao fax, mas Cloé só chegava às dez horas. Absalão dirigiu-se ao Centro de Processamento de Dados.
- O que se passa aqui? Não começou o expediente? Quem é você?
- Sou do "telemarketing", senhor. Já faz dias que não há ninguém. Dizem que, com esse plano de classificação de cargos e salários e com essa política de promoções, não fica ninguém... Se for de seu desejo, eu vou estar localizando a sua secretária...
Por um breve momento Absalão esqueceu todos os seus problemas e falou consigo mesmo: - Que diabos de dialeto fala essa mulher? "telemarketing... vou estar localizando..."? O que ela quer dizer com isso?
Mas logo voltou à realidade e disparou para o escritório. No caminho encontrou Roboão que lhe disse preocupado haver um zum-zum-zum acerca de um tal Plúvio, que poderia ser um terrorista, mas que a sua equipe... Absalão ficou branco e correu em direção ao fax. Cloé já havia chegado, finalmente.
- Cloé, rápido:
De: Absalão
Para: O Senhor
Dificuldades com projetista atrasam empreendimento. Solicito prorrogação do prazo.
A resposta foi imediata:
De: Senhor
Para: Absalão
PRORROGAÇÃO NEGADA.
E começou a chover...
Absalão saiu correndo, seguido por Jacó. Derramava água. Ambos corriam morro acima, com a água nos calcanhares. Em pouco tempo já estavam com água pela cintura. Era cada um por si! Quando eles já se debatiam, com água pelo pescoço, Jacó ainda teve tempo de gritar para o chefe, apontando para a enxurrada:
- Chefe, veja, há um barco vencendo as ondas! Veja na proa... está escrito... A ARCA DE NOÉ!
(autor desconhecido)
Sou contra estereótipos. Aquela velha história de retratar todo Inglês como certinho (leia-se também “quadrado”), o francês como cozinheiro, o russo como frio e alcoólatra e o brasileiro como sambista, jogador de futebol e morador de uma floresta. Somos bombardeados por essas imagens o tempo todo, principalmente através do cinema e da televisão, dessa forma, construímos e ajudamos a fortalecer esses estereótipos.
Eu nunca fui à Índia. Na verdade, este país nunca entrou em minha lista de “lugares a visitar”. Nada contra, mas pouco à favor, entendem?
Imagino que se no Brasil existe muita injustiça e desigualdade social, lá deve haver um abismo, praticamente intransponível, separando as castas ou classes sociais, pelo menos foi isso que aprendi na escola. Talvez esse seja o clichê mais forte e que identifica esse país, pelo menos para mim. Um lugar de belezas ímpares, onde convivem a riqueza e a pobreza. Não a pobreza com a qual estamos acostumados, mas sim a miserabilidade, a completa falta das condições mínimas de saneamento, habitação, entre outros fatores condizentes à sobrevivência humana.
Como disse anteriormente, nunca fui à Índia, dessa forma, sinto-me incapaz de tecer uma opinião isenta e coerente dessa situação, mas tento fundamentá-la com fatos que são noticiados nos jornais e revistas, bem como nos foi ensinado nos livros de história e geografia.
A dualidade é bem clara quando analisamos as duas perspectivas que nos são apresentadas na atualidade: uma são os filmes e novelas que mostram uma Índia “rica” e emergente, com uma cultura belíssima e vestes multicoloridas, festas opulentas e iguarias apetitosas, a outra, o retrato de um país onde a grande maioria da população beira à miséria, com crianças sendo exploradas sexual e financeiramente, sendo usadas como mendigos junto aos turistas estrangeiros. Essa segunda perspectiva pode ser vista no filme “Quem quer ser um milionário” (Slumdog Millionaire - 2008), o grande vencedor da 81ª edição do Oscar.
A realidade é muito difícil de ser comprimida nas poucas horas de um filme. Como não dizer que “Cidade dos Deus” ou “Tropa de Elite” não são representações bem próximas da realidade brasileira? Contudo, o Brasil não é só aquilo, não se resume em favelas e narcotráfico.
Retratar um país sem o mínimo de responsabilidade, é contribuir com a construção de estereótipos e mentiras a respeito daquele lugar. Quem assistiu aos filmes “Feitiço do Rio” e “Turistas”, sabe bem o que estou querendo dizer. No primeiro, a imagem de um Rio de Janeiro aonde todas as mulheres vão à praia de topless e com seus “macacos de estimação”, no segundo, o retrato de um país xenófobo, violento e onde órgãos humanos são roubados de turistas indefesos.
Enquanto a “verdade” não freqüentar os cinemas, teremos que nos munir de muito senso crítico para não aceitarmos facilmente as fantasias dos roteiristas de Hollywood.
Quanto ao filme “Quem quer ser um milionário”, vale a pena assistir, mereceu cada Oscar que ganhou.
Em tempo:
Eu hoje, 14 de junho de 2009, li no blog da Jessie um post muito legal sobre o assunto, vale conferir.(Mineira sem freio)